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Guia-me a Só Razão

Fernando Pessoa

Descobrimento 4, 1932.

  • [Guia-me a só razão]

    Guia-me a só razão.
    Não me deram mais guia.
    Alumia-me em vão?
    Só ela me alumia.
    Tivesse Quem criou
    O mundo desejado
    Que eu fôsse outro que sou,
    Ter-me-hia outro criado.
    Deu-me olhos para ver.
    Ólho, vejo, acredito.
    Como ousarei dizer:
    « Cego, fôra eu bendito » ?
    Como o olhar, a razão
    Deus me deu, para ver
    Para além da visão —
    Olhar de conhecer.
    Se ver é enganar-me,
    Pensar um descaminho,
    Não sei. Deus os quis dar-me
    Por verdade e caminho.
  • [Guia-me a só razão]

    Guia-me a só razão.
    Não me deram mais guia.
    Alumia-me em vão?
    Só ela me alumia.
    Tivesse Quem criou
    O mundo desejado
    Que eu fosse outro que sou,
    Ter-me-ia outro criado.
    Deu-me olhos para ver.
    Olho, vejo, acredito.
    Como ousarei dizer:
    «Cego, fora eu bendito»?
    Como o olhar, a razão
    Deus me deu, para ver
    Para além da visão —
    Olhar de conhecer.
    Se ver é enganar-me,
    Pensar um descaminho,
    Não sei. Deus os quis dar-me
    Por verdade e caminho.