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Soneto já Antigo

Álvaro de Campos

Contemporânea 6, dezembro de 1922, p. 121.

  • SONETO JÁ ANTIGO

    Olha, Daisy: quando eu morrer tu has de
    Dizer aos meus amigos ahi de Londres,
    Embora não o sintas, que tu escondes
    A grande dôr da minha morte. Irás de
    Londres p’ra York, onde nascestes (dizes…
    Que eu nada que tu digas acredito),
    Contar áquelle pobre rapazito
    Que me deu tantas horas tão felizes,
    Embora não o saibas, que morri…
    Mesmo elle, a quem eu tanto julguei amar,
    Nada se importará… Depois vae dar
    A noticia a essa extranha Cecily
    Que acreditava que eu seria grande…
    Raios partam a vida e quem lá ande!

    ALVARO DE CAMPOS

  • SONETO JÁ ANTIGO

    Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
    Dizer aos meus amigos aí de Londres,
    Embora não o sintas, que tu escondes
    A grande dor da minha morte. Irás de
    Londres p’ra York, onde nascestes (dizes…
    Que eu nada que tu digas acredito),
    Contar àquele pobre rapazito
    Que me deu tantas horas tão felizes,
    Embora não o saibas, que morri…
    Mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
    Nada se importará… Depois vai dar
    A notícia a essa estranha Cecily
    Que acreditava que eu seria grande…
    Raios partam a vida e quem lá ande!

    ÁLVARO DE CAMPOS