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Canção de Outono

Fernando Pessoa

Ilustração Portuguesa, 28 de janeiro de 1922, p. 86.

  • CANÇÃO DE OUTOMNO

    No entardecer da terra
    O sopro do longo outomno
    Amareleceu o chão.
    Um vago vento erra,
    Como um sonho mau num somno,
    Na livida solidão.
    Soergue as folhas, e pousa
    As folhas, e volve e revolve,
    E esváe-se inda outra vez.
    Mas a folha não repousa,
    E o vento livido volve
    E expira na lividez.
    Eu já não sou quem era;
    O que eu sonhei, morri-o;
    E mesmo o que hoje sou
    Amanhã direi: Quem dera
    Volver a sel-o!… Mais frio
    O vento vago voltou.

    FERNANDO PESSOA.

    Poema republicado, sem título, em “Alguns Poemas / De um Cancioneiro”, Athena 3, Dezembro de 1924, pp. 82-88. Para além de diferenças ortográficas, na segunda publicação o terceiro verso da última estrofe é substituído por “E até do que hoje sou”.
  • CANÇÃO DE OUTONO

    No entardecer da terra
    O sopro do longo outono
    Amareleceu o chão.
    Um vago vento erra,
    Como um sonho mau num sono,
    Na lívida solidão.
    Soergue as folhas, e pousa
    As folhas, e volve e revolve,
    E esvai-se inda outra vez.
    Mas a folha não repousa,
    E o vento lívido volve
    E expira na lividez.
    Eu já não sou quem era;
    O que eu sonhei, morri-o;
    E mesmo o que hoje sou
    Amanhã direi: Quem dera
    Volver a sê-lo!… Mais frio
    O vento vago voltou.

    FERNANDO PESSOA.

    Poema republicado, sem título, em “Alguns Poemas / De um Cancioneiro”, Athena 3, Dezembro de 1924, pp. 82-88. Para além de diferenças ortográficas, na segunda publicação o terceiro verso da última estrofe é substituído por “E até do que hoje sou”.