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Passos da Cruz, XII

Fernando Pessoa

O “Notícias” Ilustrado, 28 de abril de 1929, p. 11.

  • PASSOS DA CRUZ

    XII

    Ella ia, tranquila pastorinha,
    Pela estrada da minha imperfeição.
    Seguia-a, como um gesto de perdão,
    O seu rebanho, a saudade minha...
    «Em longes terras hás de ser rainha»
    Um dia lhe disseram, mas em vão...
    Seu vulto perde-se na escuridão...
    Só sua sombra ante meus pés caminha...
    Deus te dê lyrios em vez desta hora,
    E em terras longe do que eu hoje sinto
    serás, rainha não, mas só pastora —
    Só sempre a mesma pastorinha a ir,
    E eu serei teu regresso, esse indistincto
    abysmo entre o meu sonho e o meu porvir...

    FERNANDO PESSOA.

    Este soneto foi anteriormente incluído no conjunto “Passos da Cruz” (Centauro número único, Dezembro de 1916, pp.62-76), com diferenças ortográficas e opção pela maiúscula inicial nos terceiros versos dos tercetos.
  • PASSOS DA CRUZ

    XII

    Ela ia, tranquila pastorinha,
    Pela estrada da minha imperfeição.
    Seguia-a, como um gesto de perdão,
    O seu rebanho, a saudade minha...
    «Em longes terras hás de ser rainha»
    Um dia lhe disseram, mas em vão...
    Seu vulto perde-se na escuridão...
    Só sua sombra ante meus pés caminha...
    Deus te dê lírios em vez desta hora,
    E em terras longe do que eu hoje sinto
    serás, rainha não, mas só pastora —
    Só sempre a mesma pastorinha a ir,
    E eu serei teu regresso, esse indistinto
    abismo entre o meu sonho e o meu porvir...

    FERNANDO PESSOA.

    Este soneto foi anteriormente incluído no conjunto “Passos da Cruz” (Centauro número único, Dezembro de 1916, pp.62-76), com diferenças ortográficas e opção pela maiúscula inicial nos terceiros versos dos tercetos.