PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós creou,
Se ainda há vida ainda não é finda;
O frio morto em cinzas a ocultou;
A mão do vento póde erguê-la ainda.
Se ainda há vida ainda não é finda;
O frio morto em cinzas a ocultou;
A mão do vento póde erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem — ou desgraça, ou ânsia —
Com que a chama do esforço se remóça,
E outra vez conquistemos a Distancia —
Do mar ou outra, mas que seja nossa.
Com que a chama do esforço se remóça,
E outra vez conquistemos a Distancia —
Do mar ou outra, mas que seja nossa.
FERNANDO PESSOA.
O poema “Prece“ foi incluído em “Mar
Portuguez”http://www.pessoadigital.pt/pt/pub/Pessoa_Mar
Portuguez (Contemporânea, Outubro de 1922; Leitura para todos, Junho de
1926 e Revolução, 16 de junho de 1933) e em “Do
livro Mensagem” (Diário de Lisboa, 14 de dezembro de 1934, p. 5),
assim como no livro Mensagem (Lisboa: Parceria
António Maria Pereira, 1934), apresentando diferenças ortográficas e de
pontuação face a qualquer das restantes publicações.