Duas Odes
Quando, Lídia, vier o nosso
outono
Com o inverno que há nêle, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa –
O amarelo actual que as fôlhas vivem
Com o inverno que há nêle, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa –
O amarelo actual que as fôlhas vivem
E as torna diferentes.
Ténue, como se de Éolo a
esquecessem,
A brisa da manhã titila o campo,
Não desejemos, Lídia, nesta hora
Mais sol do que ela, nem mais alta brisa
A brisa da manhã titila o campo,
E há comêço do sol.
Não desejemos, Lídia, nesta hora
Mais sol do que ela, nem mais alta brisa
Que a que é pequena e existe.
RICARDO REIS