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Tenente Teófilo Duarte

Fernando Pessoa

Acção , 4 de agosto de 1919, p. 6.

  • Tenente Theophilo Duarte

    Os jornaes diarios reproduziram ― o Diario de Noticias quasi na integra ― as palavras admiraveis que o tenente Theophilo Duarte pronunciou: no seu julgamento. Dispensamo-nos, porisso, de as reproduzir novamente; mas não podemos deixar de a ellas fazer uma, ainda que ligeira, referencia.

    Num momento da vida patria, em que todas as forças de dissolução e de desnacionalização se agglomeram em torno ao estandarte que não teem, consola e orienta ver como a chamma antiga não está de todo extincta, e que aquella lealdade attribuida aos portuguezes não é de todo um mytho ou uma cousa que passou.

    Sem mysticismo nacional, sem o instincto militar da Patria, nenhuma nação vive, ou tende para a grandeza, que outro não é, para uma nação verdadeira, o sentido da mera palavra «viver». «Viver uma vida honesta e honrada» de «nação livre e laboriosa», é, como ideal social, a ultima das abjecções. A modestia, o apagamento, o não-querer-estorvar-os-outros, podendo ver virtudes na vida individual, são os vicios ultimos na vida dos paizes. Toda a nação verdadeira é um imperio em tendencia; e todo o imperialismo é um mysticismo militar e nacional.

    Todos quantos affirmem, no seu estado enthusiasta e mystico, as virtudes militares, as virtudes de lealdade para com o Chefe eleito pelo Destino, ainda que a Morte o haja affastado de nós, são ensinadores de nacionalismo, pontos de concentração de esperança, antemanhãs de resurgimento e de salvação.

    São estas as considerações que nos suggerem as palavras altivas, que, por occasião do seu julgamento, o tenente Theophilo Duarte pronunciou. Que haja muitos que não comprehendam estes commentarios, é cousa que nos não importa; esses tambem não comprehendem Portugal.

    O resto, dil-o-ha o futuro.

    Seguimos a convicção de José Barreto (cf.

    Barreto, 2013

    , p. 179) de que se trata de um artigo pessoano não assinado, como o sugerem expressões caraterísticas, tais como: ʺTodos quando affirmen, no seu estado enthusiasta e mystico, as virtudes militares, as virtudes de lealdade para com o Chefe eleito pelo Destino, ainda que a Morte o haja affastado de nós, são ensinadores de nacionalismo, pontos de concentração de esperança, antemanhãs de resurgimento e de salvaçãoʺ.
  • Tenente Teófilo Duarte

    Os jornais diários reproduziram ― o Diário de Notícias quase na íntegra ― as palavras admiráveis que o tenente Teófilo Duarte pronunciou: no seu julgamento. Dispensamo-nos, por isso, de as reproduzir novamente; mas não podemos deixar de a elas fazer uma, ainda que ligeira, referência.

    Num momento da vida pátria, em que todas as forças de dissolução e de desnacionalização se aglomeram em torno ao estandarte que não têm, consola e orienta ver como a chama antiga não está de todo extinta, e que aquela lealdade atribuída aos portugueses não é de todo um mito ou uma coisa que passou.

    Sem misticismo nacional, sem o instinto militar da Pátria, nenhuma nação vive, ou tende para a grandeza, que outro não é, para uma nação verdadeira, o sentido da mera palavra «viver». «Viver uma vida honesta e honrada» de «nação livre e laboriosa», é, como ideal social, a última das abjeções. A modéstia, o apagamento, o não-querer-estorvar-os-outros, podendo ver virtudes na vida individual, são os vícios últimos na vida dos países. Toda a nação verdadeira é um império em tendência; e todo o imperialismo é um misticismo militar e nacional.

    Todos quantos afirmem, no seu estado entusiasta e místico, as virtudes militares, as virtudes de lealdade para com o Chefe eleito pelo Destino, ainda que a Morte o haja afastado de nós, são ensinadores de nacionalismo, pontos de concentração de esperança, antemanhãs de ressurgimento e de salvação.

    São estas as considerações que nos sugerem as palavras altivas, que, por ocasião do seu julgamento, o tenente Teófilo Duarte pronunciou. Que haja muitos que não compreendam estes comentários, é coisa que nos não importa; esses também não compreendem Portugal.

    O resto, di-lo-á o futuro.

    Seguimos a convicção de José Barreto (cf.

    Barreto, 2013

    , p. 179) de que se trata de um artigo pessoano não assinado, como o sugerem expressões caraterísticas, tais como: ʺTodos quando affirmen, no seu estado enthusiasta e mystico, as virtudes militares, as virtudes de lealdade para com o Chefe eleito pelo Destino, ainda que a Morte o haja affastado de nós, são ensinadores de nacionalismo, pontos de concentração de esperança, antemanhãs de resurgimento e de salvaçãoʺ.
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    • Teófilo Duarte

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    • Diário de Notícias