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O Avô e o Neto

Fernando Pessoa

Tesouro da Juventude, 1925 ― 1928.

O Tico-tico: Jornal das crianças 1329, 25 de março de 1931, p. 23.

  • O AVÔ E O NETOTesouro, 1925-1928:MEDITAÇÕES DO AVÔ E BRINQUEDOS DO NETO

    Ao ver o neto a brincar,
    Diz o avô, entristecido:
    ʺAh, quem me dera voltar
    A estar assim entretido!
    ʺQuem me dera o tempo quando
    Castellos assim fazia,
    E que os deixava ficando
    Ás vezes p’ra o outro dia;
    ʺE toda a tristeza minha
    Era, ao acordar p’ra vel-o,
    Ver que a creada já tinha
    Arrumado o meu castello.ʺ
    Mas o neto não o ouve
    Porque está preoccupado
    Com um engano que houve
    No portão para o soldado.
    E, emquanto o avô scisma, e, triste,
    Lembra a infancia que lá vai,
    Já mais uma casa existe
    Ou mais um castello cai;
    E o neto, olhando afinal,
    E vendo o avô a chorar,
    Diz, ʺCahiu, mas não faz mal:
    Torna-se já a arranjar.ʺ

    Fernando PessoaTesouro, 1925-1928:FERNANDO PESSOA

    Poema publicado em Tesouro da Juventude, provavelmente por volta de 1926, sob o título ʺMeditações do Avô e Brinquedos do Netoʺ, que terá sido acrescentado pelos editores do jornal, e em O Tico-tico: Jornal das crianças, a 25 de março de 1931, sob o título ʺO Avô e o Netoʺ. Apresentamos as imagens de ambos os periódicos e seguimos o título desta última publicação, que se encontra também no testemunho do espólio de Pessoa, em BNP 44-37r. O texto de ambas as publicações é, de resto, idêntico.

  • O AVÔ E O NETOTesouro, 1925-1928:MEDITAÇÕES DO AVÔ E BRINQUEDOS DO NETO

    Ao ver o neto a brincar,
    Diz o avô, entristecido:
    “Ah, quem me dera voltar
    A estar assim entretido!
    “Quem me dera o tempo quando
    Castelos assim fazia,
    E que os deixava ficando
    Às vezes p’ra o outro dia;
    “E toda a tristeza minha
    Era, ao acordar p’ra vê-lo,
    Ver que a criada já tinha
    Arrumado o meu castelo."
    Mas o neto não o ouve
    Porque está preocupado
    Com um engano que houve
    No portão para o soldado.
    E, enquanto o avô cisma, e, triste,
    Lembra a infância que lá vai,
    Já mais uma casa existe
    Ou mais um castelo cai;
    E o neto, olhando afinal,
    E vendo o avô a chorar,
    Diz, “Caiu, mas não faz mal:
    Torna-se já a arranjar."

    Fernando PessoaTesouro, 1925-1928:FERNANDO PESSOA

    Poema publicado em Tesouro da Juventude, provavelmente por volta de 1926, sob o título ʺMeditações do Avô e Brinquedos do Netoʺ, que terá sido acrescentado pelos editores do jornal, e em O Tico-tico: Jornal das crianças, a 25 de março de 1931, sob o título ʺO Avô e o Netoʺ. Apresentamos as imagens de ambos os periódicos e seguimos o título desta última publicação, que se encontra também no testemunho do espólio de Pessoa, em BNP 44-37r. O texto de ambas as publicações é, de resto, idêntico.