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Rubaiyat

Fernando Pessoa

Contemporânea 2, julho — outubro de 1926, p. 98.

  • RUBAIYAT

    O fim do longo, inutil dia ensombra.
    A mesma sp’rança que não deu se escombra,
    Prolixa... A vida é um mendigo bebado
    Que extende a mão á sua propria sombra.
    Dormimos o universo. A extensa massa
    Da confusão das cousas nos enlaça,
    Sonhos; e a ebria confluencia humana
    Vazia echoa-se de raça em raça.
    Ao goso segue a dôr, e o goso a esta.
    Ora o vinho bebemos porque é festa,
    Ora o vinho bebemos porque ha dôr.
    Mas de um e de outro vinho nada resta.

    FERNANDO PESSOA

  • RUBAIYAT

    O fim do longo, inútil dia ensombra.
    A mesma esp’rança que não deu se escombra,
    Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
    Que estende a mão à sua própria sombra.
    Dormimos o universo. A extensa massa
    Da confusão das coisas nos enlaça,
    Sonhos; e a ébria confluência humana
    Vazia ecoa-se de raça em raça.
    Ao gozo segue a dor, e o gozo a esta.
    Ora o vinho bebemos porque é festa,
    Ora o vinho bebemos porque há dor.
    Mas de um e de outro vinho nada resta.

    FERNANDO PESSOA