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ʺO Mais Belo Livroʺ — Um inquérito de intelectuais

Fernando Pessoa

A República , 7 de abril de 1914, p. 1.

  • ʺO Mais Belo Livroʺ — Um inquérito de intelectuais

    OS ULTIMOS 30 ANOS FORMAM, BEM VISIVELMENTE, UMA »ÉTAPE» LITERÁRIA, E MARCAM, PARA A MENTALIDADE PORTUGUESA, UMA DAS SUAS FASES MAIS RICAS EM CRIAÇÕES DE GÉNIO. POIS BEM: QUAL É, DE ENTRE AS OBRAS CRIADAS NESSE BRILHANTE APELO, A MAIS BELA? TEEM A PALAVRA OS ESCRITORES, POETAS, JORNALISTAS, HOMENS DE LETRAS, TODOS QUANTOS, INTELECTUAIS DO LIVRO OU DA GAZETA DA POLITICA OU DO TEATRO, CONSTITUEM ISSO QUE PODE CHAMAR-SE — O CEREBRO PORTUGUES.

    FERNANDO PESSOA
    Escritor, critico de arte

    — A grande desvantagem estética do seu inquérito é ser a resposta tão facil que nem podemos ter o prazer de duvidar da nossa sinceridade. Uma obra destaca-se tão afastadamente das outras que nem vale a pena fingir que temos hesitação na escolha. Mais vale confessar sinceramente que achamos valor a um contemporaneo.

    Posto isto, chamo a atenção das pessoas criticamente competentes (a sua existencia entre nós é uma hipotese da minha delicadeza) para o facto evidente de que a  Pátria  de Junqueiro é, não só a maior obra dos ultimos trinta anos, mas a obra capital do que há até agora de nossa literatura. Os Lusiadas  ocupam honradamente o segundo lugar.

    Não há infelizmente dúvidas. — A Pátria  sobreleva  Os Lusiadas , 1.º, na perfeita organicidade e construção, na unificação e integralização dos complexissimos elementos componentes, 2.º, no poder puramente visionador e imaginativo, 3.º, na elevação, intensidade e complexidade do sentimento patriotico e religioso. E se  Os Lusiadas  vencem na sobria solenidade da sua linha estrutural, a Pátria  compensa-o com a sua superioridade no que simples poesia e pura fórma. Posso mesmo acrescentar que, a meu vêr, a  Pátria  fórma, com o Fausto  de Goethe e o Prometeu Liberto  de Shelley, a trilogia de grandesa da poesia superlirica moderna.

  • ʺO Mais Belo Livroʺ — Um inquérito de intelectuais

    OS ÚLTIMOS 30 ANOS FORMAM, BEM VISIVELMENTE, UMA »ÉTAPE» LITERÁRIA, E MARCAM, PARA A MENTALIDADE PORTUGUESA, UMA DAS SUAS FASES MAIS RICAS EM CRIAÇÕES DE GÉNIO. POIS BEM: QUAL É, DE ENTRE AS OBRAS CRIADAS NESSE BRILHANTE APELO, A MAIS BELA? TÊM A PALAVRA OS ESCRITORES, POETAS, JORNALISTAS, HOMENS DE LETRAS, TODOS QUANTOS, INTELECTUAIS DO LIVRO OU DA GAZETA DA POLÍTICA OU DO TEATRO, CONSTITUEM ISSO QUE PODE CHAMAR-SE — O CÉREBRO PORTUGUÊS.

    FERNANDO PESSOA
    Escritor, crítico de arte

    — A grande desvantagem estética do seu inquérito é ser a resposta tão fácil que nem podemos ter o prazer de duvidar da nossa sinceridade. Uma obra destaca-se tão afastadamente das outras que nem vale a pena fingir que temos hesitação na escolha. Mais vale confessar sinceramente que achamos valor a um contemporâneo.

    Posto isto, chamo a atenção das pessoas criticamente competentes (a sua existência entre nós é uma hipótese da minha delicadeza) para o facto evidente de que a Pátria de Junqueiro é, não só a maior obra dos últimos trinta anos, mas a obra capital do que há até agora de nossa literatura. Os Lusíadas ocupam honradamente o segundo lugar.

    Não há infelizmente dúvidas. — A Pátria sobreleva Os Lusíadas, 1.º, na perfeita organicidade e construção, na unificação e integralização dos complexíssimos elementos componentes, 2.º, no poder puramente visionador e imaginativo, 3.º, na elevação, intensidade e complexidade do sentimento patriótico e religioso. E se  Os Lusíadas vencem na sóbria solenidade da sua linha estrutural, a Pátria compensa-o com a sua superioridade no que simples poesia e pura forma. Posso mesmo acrescentar que, a meu ver, a  Pátria forma, com o Fausto de Goethe e o Prometeu Liberto de Shelley, a trilogia de grandeza da poesia superlírica moderna.

  • Nomes

    • Guerra Junqueiro
    • Johann Wolfgang von Goethe
    • Percy Bysshe Shelley

    Títulos

    • Fausto
    • Os Lusiadas
    • Prometeu Liberto
    • Pátria