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Versos de Fernando Pessoa (Minuete Invisível, Névoa)

Fernando Pessoa

Diário dos Açores, 17 de julho de 1930, p. 1.

  • Versos de Fernando Pessoa

    Minuete invisivel

    Elas são vaporosas,
    Palidas sombras, as rosas
    Nadas da hora lunar..
    Veem, aereas, dançar
    Como perfumes soltos
    Entre os canteiros e os buxos...
    Chora no som dos repuxos
    O ritmo que ha nos seus vultos...
    Passam e agitam a brisa...
    Palida, a pompa indecisa
    Da sua flébil demora
    Paira em auréola á hóra...
    Passam nos ritmos da sombra...
    Ora é uma folha que tomba,
    Ora uma brisa que treme
    Sua leveza solene...
    E assim vão indo, delindo
    Seu perfil unico e lindo,
    Seu vulto feito de todas,
    Nas alamedas, em rodas,
    No jardim livido e frio...
    Passam sósinhas, a fio,
    Como um fumo indo, a rarear,
    Pelo ar longinquo e vazio,
    Sob o, disperso pelo ar,
    Palido palio lunar...

    Névoa

    A névoa involve a montanha,
    Húmido, um frio desceu.
    O que é esta mágua estranha
    Que o coração me prendeu?
    Parece ser a tristeza
    De alguem de quem sou actor,
    Com fantasiada viveza
    Tornada já minha dôr.
    Mas, não sei porquê, me doi
    Qual se fôra eu a ilusão;
    E ha névoa em tudo o que foi
    E frio em meu coração.
    O poema ʺMinuete invisivelʺ foi anteriormente incluído em ʺFicções do Interludioʺ, parte do conjunto ʺEpisódiosʺ, Portugal Futurista, Novembro de 1917, pp. 21-23, com algumas diferenças ortográficas.
  • Versos de Fernando Pessoa

    Minuete invisível

    Elas são vaporosas,
    Pálidas sombras, as rosas
    Nadas da hora lunar..
    Vêm, aéreas, dançar
    Como perfumes soltos
    Entre os canteiros e os buxos...
    Chora no som dos repuxos
    O ritmo que há nos seus vultos...
    Passam e agitam a brisa...
    Pálida, a pompa indecisa
    Da sua flébil demora
    Paira em auréola à hora...
    Passam nos ritmos da sombra...
    Ora é uma folha que tomba,
    Ora uma brisa que treme
    Sua leveza solene...
    E assim vão indo, delindo
    Seu perfil único e lindo,
    Seu vulto feito de todas,
    Nas alamedas, em rodas,
    No jardim lívido e frio...
    Passam sozinhas, a fio,
    Como um fumo indo, a rarear,
    Pelo ar longínquo e vazio,
    Sob o, disperso pelo ar,
    Pálido pálio lunar...

    Névoa

    A névoa envolve a montanha,
    Húmido, um frio desceu.
    O que é esta mágoa estranha
    Que o coração me prendeu?
    Parece ser a tristeza
    De alguém de quem sou ator,
    Com fantasiada viveza
    Tornada já minha dor.
    Mas, não sei porquê, me dói
    Qual se fora eu a ilusão;
    E há névoa em tudo o que foi
    E frio em meu coração.
    O poema ʺMinuete invisivelʺ foi anteriormente incluído em ʺFicções do Interludioʺ, parte do conjunto ʺEpisódiosʺ, Portugal Futurista, Novembro de 1917, pp. 21-23, com algumas diferenças ortográficas.