Falta de logica... Passadista
O meu artigo Falencia? aqui publicado, levou o Diario Nacional a responder (?) com umas considerações intituladas Logica... futurista.
Razão tinha eu em me referir, ainda que como simples corolario da minha demonstração, á indisciplina mental dos monarquicos. A resposta (?) de que se trata, seja ela da autoria de quem fôr, é prova bastante. Seria dificil manifestar mais completamente, em tão curto espaço, a confusão do espirito, a incapacidade de compreender e de discutir.
Imagine-se que o diarista nacional não tem melhor argumento contra a minha tese do que, dizendo que não compreendi o sentido que se dá á fráse “A Republica faliu”, explicar essa frase... precisamente em termos que eu tinha previsto, analisado e refutado! “Precisamente” é modo de dizer, e modo de dizer erado. Imprecisamente é que é, porque o critico (?), expondo confusamente o que já fora exposto com lucidez, julga estar dizendo outra coisa, quando a unica novidade é a confusão, que parte delle.
Outro argumento da mesma fonte... seca: a minha tese é falsa porque colaborei em Orfeu.
Terceiro y ultimo argumento: discutindo as teorias monarquicas a respeito da Republica, agredi quem nunca me fez mal.
É certo que nunca me fizeram mal, como é falso que haja no artigo em questão qualquer coisa a que se possa chamar “agredir”. O melhor, porém, é aquele achado do neo-João Felix de que a gente tem obrigação de concordar com as teorias politicas das pessoas que nunca nos fizeram mal.
Mas onde o critico (?) revela o seu segredo psiquico é em duas afirmações casuaes: a de que o meu artigo não passa de galimatias, e a de que sofro a influencia de um tratado qualquer de logica.
Esta gente que só tem cabeça porque a providencia não quer desamparar os chapeleiros, tem, ante um raciocino apertado e coerente, a noção de que ele é confuso, porque, sendo incapaz de (pelo menos) segui-lo com atenção, perde-lhe o fio e não compreende nada. E esta mesma gente tem sempre a noção camponia de que se aprende a raciocinar nos tratados de logica; o que equivale a supôr que se aprende a ouvir nos tratados de acustica.
E querem eles que os tomem a serio!.. E criticam os argumentos dos outros!.
Ah, estes sucedaneos do cerebro nunca deram resultado!
Fernando Pessoa.